Alguma coisa morreu hoje. Não estou bem seguro do que terá sido, nem tenho sequer disponível o relato do post-mortem, que se referiria de resto a um cadáver que nem foi ainda encontrado. Na ausência do corpus delicti nada pode ser presumido, mas eu mantenho ainda assim a minha ideia, minto, queria dizer a minha convicção: alguma coisa morreu hoje, e se calhar convinha enterrá-la.
Seria decerto um exagero presumir aqui um crime, ou mesmo uma inconveniência: o que não falta por aí são mortes que apenas redundam no bem geral, vejam-se por exemplo os casos da ténia e do mosquito, ou de certos políticos. A morte não é certamente um problema, não enquanto se não souber com certeza o que morreu. E isso é coisa que desconheço ainda.
Mas tenciono conhecer, e poucas dúvidas me restam de que lá chegarei. Posso eventualmente ter sido eu, caso que não convocará grandes preocupações: basicamente, será apenas outra machadada num cadáver que já ultrapassou qualquer tipo de preocupação com esse tipo de golpe, e de resto qualquer outro tipo, ou qualquer outro golpe.
Ou pode ter sido uma morte diferente, a morte de uma obsessão. Essa poderia ser uma morte interessante, e posso realmente imaginar-me a investigar uma morte desse género. A investigação seria obviamente peada por duas condicionantes, a saber: a. A obsessão morreu de facto? E evidentemente b., Morta a obsessão, o que resta?
O que resta, de facto? Talvez escrever posts, posts sobre a morte de algo.
Alguma coisa morreu hoje. Gostava de estar errado, mas posso ter sido eu.
Há que enterrar os nossos palhaços, se queremos manter um ar sério... até os elefantes, antes de morrer, têm o cuidado de o fazer em sítio adequado...
terça-feira, 20 de outubro de 2009
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Mahjong
Nada que fazer, como de costume. Apenas o computador, onde cada vez há menos que fazer, e tudo se começa a resumir a mais um jogo de Mahjong. O Mahjong é um jogo simples, onde se faz mister emparelhar peças, de entre uma infinidade de escolhas diferentes. Nada a fazer, como já foi dito, é mesmo preciso jogar. Comecemos o jogo.
Numa janelinha a um canto, ficamos a saber que temos dezanove opções. Uau, dezanove! É sempre assim que começa, e raramente nos detemos a considerar que não há realmente dezanove opções, que muitas dessas se excluem mutuamente, e se escolhermos A em vez de B ou C, não poderemos mais voltar a escolher B, nem muito menos C. Mas as dezanove opções embriagam-nos no início do jogo, e quem é que se vai mais lembrar de pormenores como esse?
Há opções mais importantes que outras, e julgamos escolher bem. Mas deixamos muitas vezes de ver alternativas, para além das muitas que estão tapadas, e só serão reveladas depois da escolha estar feita. Quando menos nos precatamos, os números caíram a pique, e temos apenas quatro ou cinco opções. É aí que começamos a suar.
Tentamos manter as nossas opções em aberto. Esta escolha é óbvia, mas não conduz a nada de novo, e o número de opções caiu para três. Aquela parecia fundamental e não era, abriu só um caminho enquanto fechou outro, e os valores mantêm-se. Aquela parece subitamente a resposta a uma prece, as escolhas possíveis saltaram para sete, mas cada jogada que se segue baixa o contador. De repente, já só temos uma opção, que avaramente jogada conduz a mais uma, e vamos vivendo da mão para a boca. Previsivelmente, chegamos àquela que a nada conduz, e damos connosco a ler a mensagem, “Não tem mais opções, o jogo acabou”.
É um ponto sem retorno, o fim do jogo. Olhamos para o tabuleiro que não vai mais mudar, enquanto distraidamente ouvimos vozes que animadoramente sugerem que as coisas podem ainda evoluir, pode sempre aparecer uma nova opção. É claro que as coisas podem mudar, e também é possível que eu venha a ser rico, ou que viaje até à Lua. Sejamos contudo honestos, quantas vezes é que isso de facto acontece?
As opções esgotaram-se, e o tabuleiro lá está montado a um canto, fixado na última posição, na que não tem já saída. Todas as escolhas estão feitas, agora basta apenas limpar-lhe o pó de vez em quando. Um dia, tarde ou cedo, virá mão caridosa desmontá-lo e metê-lo numa caixa destinada à prateleira. Que seja agora ou depois, é indiferente. O jogo já acabou, e eu perdi.
Numa janelinha a um canto, ficamos a saber que temos dezanove opções. Uau, dezanove! É sempre assim que começa, e raramente nos detemos a considerar que não há realmente dezanove opções, que muitas dessas se excluem mutuamente, e se escolhermos A em vez de B ou C, não poderemos mais voltar a escolher B, nem muito menos C. Mas as dezanove opções embriagam-nos no início do jogo, e quem é que se vai mais lembrar de pormenores como esse?
Há opções mais importantes que outras, e julgamos escolher bem. Mas deixamos muitas vezes de ver alternativas, para além das muitas que estão tapadas, e só serão reveladas depois da escolha estar feita. Quando menos nos precatamos, os números caíram a pique, e temos apenas quatro ou cinco opções. É aí que começamos a suar.
Tentamos manter as nossas opções em aberto. Esta escolha é óbvia, mas não conduz a nada de novo, e o número de opções caiu para três. Aquela parecia fundamental e não era, abriu só um caminho enquanto fechou outro, e os valores mantêm-se. Aquela parece subitamente a resposta a uma prece, as escolhas possíveis saltaram para sete, mas cada jogada que se segue baixa o contador. De repente, já só temos uma opção, que avaramente jogada conduz a mais uma, e vamos vivendo da mão para a boca. Previsivelmente, chegamos àquela que a nada conduz, e damos connosco a ler a mensagem, “Não tem mais opções, o jogo acabou”.
É um ponto sem retorno, o fim do jogo. Olhamos para o tabuleiro que não vai mais mudar, enquanto distraidamente ouvimos vozes que animadoramente sugerem que as coisas podem ainda evoluir, pode sempre aparecer uma nova opção. É claro que as coisas podem mudar, e também é possível que eu venha a ser rico, ou que viaje até à Lua. Sejamos contudo honestos, quantas vezes é que isso de facto acontece?
As opções esgotaram-se, e o tabuleiro lá está montado a um canto, fixado na última posição, na que não tem já saída. Todas as escolhas estão feitas, agora basta apenas limpar-lhe o pó de vez em quando. Um dia, tarde ou cedo, virá mão caridosa desmontá-lo e metê-lo numa caixa destinada à prateleira. Que seja agora ou depois, é indiferente. O jogo já acabou, e eu perdi.
Subscrever:
Mensagens (Atom)