Não haverá mais pássaros. Pairavam ainda dois ou três para juntar à colecção, mas jamais verão a luz do dia. Resta-lhes agora repousar no fundo de uma gaveta, ou onde os enviar o botão de Delete. Os meus pássaros estão extintos, e pela minha mão.
O mundo perdeu a cor e o som, tomou no seu lugar um cinzento angustiante, de uma angústia que nos aperta e espreme o coração, e onde só ressoa um silêncio que me dói. Enfim, é este agora o meu mundo, e todo feito pela minha mão. Fui eu que descorei estes cinzentos, fui eu que extingui aquele som que brilhava. É neste mundo que fiz que eu deverei viver agora.
Não me resta mais agora que suportar a tristeza de um mundo eriçado de árvores esparsas e lúgubres – noto agora que na maioria são figueiras, onde nem uma folha reverdeja. A figueira é uma árvore ligada à traição, o que calha bem aqui. Matei o último pássaro do mundo, e não sei se alguma vez compreenderei porque o fiz.