terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Areal

Um deserto de areia é duro de atravessar,
Vendo cada passo afundar nessa areia,
Que abrasiva nos abrasa.

Mas um deserto de mármore,
Limpo, asséptico e desempoeirado,
Pode ser maior tormento.
O tormento daquele dever ser
Que impiedoso esmaga o que é!

Uma racha no mármore que se enfeita,
Na ânsia de obliterar a areia que por baixo referve,
É bem mais intransponível que uma parede de areia.

E eu, que alcancei o mais alto cume
Da montanha secreta do deserto,
vi-me por fim agraciado em estátuas de mármore…

Todas recusei! Quero apenas, se querer ainda me resta,
A tua vida, o teu ser, a tua areia.

Vês-me alto demais! Não, ainda que tente,
Não sei fazer castelos em mármore!