Entre a enorme variedade de emails que recebo, provenientes de desconhecidos caridosos que de alguma forma misteriosa se inteiraram de que sou gordo, careca, tenho o pénis pequeno e sofro de impotência e ejaculação prematura ao mesmo tempo, um grupo há que me tem sempre merecido o maior carinho. Refiro-me a essa heróica equipa de publicitários que, chegando certa época do ano, não poupa um único email num esforço louvável de me manter a par, a todo o momento, daquilo que se passa, vai passar ou passou no Rock in Rio. Tal atitude é tanto mais notável quanto mais é conhecida a minha completa ignorância no que a esse fenómeno respeita. Mas lá vou lendo, compenetradamente, pois não está no meu feitio fazer desfeitas. Foi assim que me inteirei deste facto espantoso – o Rock in Rio deste ano é no ano que vem. Ou seja, está-se a preparar o Rock in Rio Lisboa 2012 – e a versão 2011 será no Brasil. Isto deu-me que pensar.
E pensar deu-me uma pequena dor de cabeça, pelo que desisti antes que aumentasse. Não sei de facto quando é o Rock in Rio neste ou naquele sítio, mas não sou o género de pessoa que se deixa derrotar pela ignorância. É sempre possível pesquisar, documentar, informar-me, ou, muito mais simplesmente, inventar tudo de uma ponta a outra. E eu tenho um fraco por soluções simples, é coisa que nunca neguei. Aqui vai, portanto, a história completa.
Desde o início me tem parecido que o Rock in Rio, com aquele nome, não seria nativo da cidade de Lisboa. Confirma-se agora a razão que me assistia – o Rock in Rio tem as suas origens no Porto! O evento, nesses tempos primordiais, tinha muito pouco a ver com música, e consistia essencialmente em grupos de portuenses que se juntavam para apedrejar o presidente da câmara. Um dia o Rui Rio fartou-se daquela chuva de calhaus que periodicamente lhe caía em cima, e disse aos participantes para onde haviam de ir: para Lisboa, bonita cidade, que tinha entre outras a larga vantagem de ele não estar lá. E já agora, acrescentou ainda, porque é que não tocavam qualquer coisinha, em vez daquele costume estúpido de atirarem pedras? O conselho não colheu inteiramente, e ainda hoje se vê por lá muita gente pedrada – no palco e fora dele. No primeiro caso, celebrizou-se recentemente uma artista estrangeira, Amélia Adega, que tem ainda assim uma bonita voz.
Mas este ano o Rock in Rio não é em Lisboa. Vão fazê-lo na Barra da Tijuca, e quem somos nós para nos opor? A Amélia não vai estar lá, e parece que também não conseguiram incluir o Prince. Existia, ao que apurámos, interesse de parte a parte, mas a participação foi inviabilizada por razões logísticas. Com efeito, começa a ser muito difícil encaixar num folheto de programa de dimensões normais “o artista anteriormente conhecido como o artista anteriormente conhecido como Prince”. Estarão lá, contudo, os Guns N’Roses, ou pelo menos parte deles. Fonte próxima da banda adiantou já que consideram a possibilidade de enviar apenas os Roses, baseado em que é supérfluo e um pouco ridículo enviar Guns para o Rio de Janeiro.
Em suma, tudo leva a esperar um bom espectáculo. Só acho que seria agradável e de bom tom – e a sugestão ainda vai a tempo de ser implementada – que chamassem ao evento “Rock in Lisbon”.