sábado, 31 de julho de 2010

Liturgia.

− Senhor, dizei uma só palavra, e eu serei salvo.
− Vai-te lixar!
− Mas isso não é uma só palavra, Senhor, são três.
− São duas, burro. “Vai-te” conta como uma só palavra.
− Rendo-me à Vossa sabedoria, Senhor. Mas ainda assim, duas palavras não são uma só.
− Isso está correcto, mas os Meus caminhos são misteriosos.
− E além disso… é certo que Vós sois o Caminho, a Verdade e a Vida, mas dizer-me que me vá lixar, enfim, parece-me que…
− Qual foi a parte de “Caminhos Misteriosos” que não percebeste?
− Compreendo agora, Senhor. Então, quando dizeis “Vai-te lixar”, isso significa…
− Significa que quero que te vás lixar. E agora deixa-me em paz, estou a descansar ao Sétimo Dia.
− Mas hoje é terça-feira, Senhor!
− E um pano encharcado nas ventas? Queres um pano encharcado nas ventas?

Oremos!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Da importância do Feng Shui no jogo da malha.

Prosseguindo aqui a nossa jornada de compreensão do oculto, daquela dimensão do Universo que transcende aquilo que os nossos pobres sentidos podem captar, e se esconde para além da mera razão com o astuto estratagema de simplesmente não levar a lado nenhum, falaremos um pouco da milenar arte do Feng Shui.

A própria expressão diz tudo. Feng (mocada) Shui (canela) é um termo que deriva do hábito oriental de usar aquelas mesas baixinhas onde inevitavelmente tropeçamos, ritual a que se segue um divertido percurso feito ao pé-coxinho, e acompanhado por aquelas riquíssimas expressões que a banda desenhada tão correctamente traduz em caracteres chineses. O que apenas prova que tudo isto está relacionado.

Algumas mentes mais prosaicas preferem definir o Feng Shui como sendo, muito simplesmente, a antiga arte de dispor o mobiliário de forma a canalizar da forma mais eficaz as correntes ocultas de boa sorte, que desse modo irão beneficiar o proprietário da dita mobília. Se não é exactamente isto, pelo menos parece-me bem inventado, e não totalmente desprovido de sentido. Com efeito, em me acontecendo ter uma convidada jeitosa do sexo oposto (oposto ao meu, não ao dela), julgo que me trará muito mais sorte um sofá-cama estrategicamente colocado do que, digamos, uma escrivaninha renascentista. Não quero com isto dizer que o Feng Shui se resuma a estas meras questões de alcova, há toda uma miríade de outros detalhes a ter em conta. As cadeiras, por exemplo, devem ser colocadas no chão, para máxima eficácia de uso, e é aconselhável que as portas dos armários e louceiros abram para fora, em vez de, por exemplo, contra a parede.

Pergunta-me agora o paciente leitor, isto é, aquele que chegou até este ponto do texto, mas pergunta-me com toda a cordialidade, dizia eu, que raio tem tudo isto a ver com o jogo da malha? Pois bem, caríssimo leitor, são assuntos intimamente relacionados, diria mesmo que inseparáveis. Para quem duvide desta afirmação, recomendo-lhe que experimente jogar uma partida de malha numa sala densamente mobilada, e que me conte depois como correu. Para minimizar os prejuízos, é aconselhável usar móveis que estejam ainda dentro da garantia. Jarrões chineses e peças de cristal poderão acrescentar toda uma vertente lúdica ao desafio, sobretudo se forem propriedade de outra pessoa qualquer.

Divirtam-se, bom jogo, e boa sorte para todos.