quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Alerta!

Às armas, todos em chusma e sem temor nem quebranto, que a hora é de heroísmos. Basta de indiferenças moles, chega de prudência acinzentada, é findo o tempo do decoro sem cor e do bom-tom que não alcança mais que flácidos e gangrenados tons que de bom nada têm. Cavalguemos sob flâmulas multicolores, bradando o grito de Rolando, e em chusmas ataquemos o único inimigo, a nossa morte em vida. Prestes, lanceiros, e vós arqueiros retesai bem as cordas, que o adversário é falho de carne que se deixe retalhar pela lâmina, como de resto convém ao vero esqueleto de Tanatos, e faz-se mister que o ferro o despedace certeiro pelo osso, ou ainda o veremos triunfar. Às armas, sobre as selas de engrinaldados corcéis, que a batalha se trava entre a vida e a inércia, e quem sabe se não será esta a batalha final. Às armas, e morra quem hesitar, que quem hesita já está morto!

O inimigo, prudente e covarde, não atacou desassombradamente em campo aberto, antes se esgueirou calado pelas planícies em volta, cercando e cerrando, tudo cobrindo com o seu manto de silêncio. Acostumou as mesnadas a essa fétida quietude, ao ponto de se sobressaltarem já com o menor ruído, e emudecerem elas próprias as buzinas feitas para ecoar valorosamente no campo de lides. Olhai-os agora, tíbios e timoratos de tudo o que os perturbe. O disparo do arcabuz fá-los tremer, e o trovejar dos canhões lança-os em pânico nos braços uns dos outros, como se assim se almofadassem contra os ventos de mudança. Não ousam já dar um passo que o inimigo não sancione, não murmuram uma sílaba que não conste da cartilha. Se amam, sufocam o amor que estrebucha e se queda inerte no altar das convenções. Sofrendo acaso o dever de amar, glorificam a sua ficção para melhor servirem a estabilidade, a conveniência, a sua própria aniquilação. Pois bem, chega!

Se é já passado o tempo dos guerreiros, das armaduras e cores de batalha, sejamos então palhaços. Troquemos as flâmulas multicolores por vestes garridas e pintadas de arco-íris, seja a gargalhada o nosso brado de guerra, e o desprezo a arrogância aguerrida dos nossos dias. Saiamos desavergonhadamente à rua, gritando o que realmente queremos e sentimos, esmagando com passo marcial tudo o que devemos sentir e querer. Vivamos, porque a vida não é algo que nos pertença: é uma batalha que se ganha em cada dia em que não morremos!

E que tu, minha princesa, sejas a recompensa que busco no cimo da torre mais alta, aquela onde só heróis podem chegar.