Alguma coisa morreu hoje. Não estou bem seguro do que terá sido, nem tenho sequer disponível o relato do post-mortem, que se referiria de resto a um cadáver que nem foi ainda encontrado. Na ausência do corpus delicti nada pode ser presumido, mas eu mantenho ainda assim a minha ideia, minto, queria dizer a minha convicção: alguma coisa morreu hoje, e se calhar convinha enterrá-la.
Seria decerto um exagero presumir aqui um crime, ou mesmo uma inconveniência: o que não falta por aí são mortes que apenas redundam no bem geral, vejam-se por exemplo os casos da ténia e do mosquito, ou de certos políticos. A morte não é certamente um problema, não enquanto se não souber com certeza o que morreu. E isso é coisa que desconheço ainda.
Mas tenciono conhecer, e poucas dúvidas me restam de que lá chegarei. Posso eventualmente ter sido eu, caso que não convocará grandes preocupações: basicamente, será apenas outra machadada num cadáver que já ultrapassou qualquer tipo de preocupação com esse tipo de golpe, e de resto qualquer outro tipo, ou qualquer outro golpe.
Ou pode ter sido uma morte diferente, a morte de uma obsessão. Essa poderia ser uma morte interessante, e posso realmente imaginar-me a investigar uma morte desse género. A investigação seria obviamente peada por duas condicionantes, a saber: a. A obsessão morreu de facto? E evidentemente b., Morta a obsessão, o que resta?
O que resta, de facto? Talvez escrever posts, posts sobre a morte de algo.
Alguma coisa morreu hoje. Gostava de estar errado, mas posso ter sido eu.