domingo, 12 de outubro de 2008

A princesa e a ervilha – fábula revista.

Para temperar um pouco a seriedade das coisas, proponho para hoje uma história de fadas, pour rire un peu.

Era uma vez uma princesa muito sensível, tão sensível que conseguia detectar uma simples gota de água no garrafão de onde diariamente emborcava os seus cinco litros de carrascão. A sua pele era tão delicada que certa noite, quando o porteiro do condomínio onde vivia deixou por incúria uma ervilha esquecida sobre o balcão da entrada, ela foi incapaz de pregar olho toda a noite, no seu apartamento do último andar. Bem, é certo que estava a braços com uma séria infecção urinária, na altura, mas o caso não deixa de ser fantástico.

A sua sensibilidade era lendária em todo o reino, e quando um anão um pouco vesgo lhe apareceu lá em casa, gabando-se de saber fiar ouro a partir de palha, sentiu logo que o gajo queria era afiambrar-se com as pratas que encontrasse no duplex. A perspicácia da princesa foi muito gabada, e todos concordaram que qualquer outra pessoa se teria deixado ludibriar pela pérfida manha da diminuta criatura.

No andar por baixo da princesa, vivia um gigante que tinha sete filhas, e uma galinha que punha ovos normais, caso que se tornara raríssimo por aquelas bandas, desde o acidente com o reactor nuclear. As sete filhas não eram bem sete, nem sequer filhas dele, eram mais um gato coxo de uma pata e três canários. O gigante, que com os sapatos calçados tinha quase um metro e noventa, decidiu um dia casar com a princesa, e foi-lhe bater à porta.

A pálida donzela corou ao ouvir a proposta do vizinho. A palidez devia-se sobretudo a uma ressaca da noite anterior, quando perdera um pouco o domínio dos eventos, dando azo a que três mânfios constatassem em primeira-mão como ela era sensível. Ainda um pouco enevoada pelos excessos da véspera, firmou-se melhor no gigante, e respondeu-lhe que não.

O gigante disse, Fa, Fe, Fi, Fo, Fu, que é uma coisa que os gigantes gostam muito de dizer, embora ninguém saiba exactamente porquê, e perguntou-lhe se o não era definitivo. Ela respondeu que sentia muito, porque era muito sensível, mas a resposta era mesmo não. Ele agradeceu, e deixou-a.

E o gigante, depois disso, viveu feliz para toda a vida.

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