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Se eu morresse não escrevia mais, e era um descanso para todos. Se eu morresse era um descanso para todos, com a vantagem de não terem mais de me ouvir ou ler ou aturar. Haveria chatices, claro – participações de falecimento e telefonemas de condolências, e o sempre dispendioso aborrecimento de dispor de um corpo que já não sabe sair do caminho quando incomoda, e que nem se lembra mais de se lavar sozinho, e bem precisa, que já começa a cheirar mal, ainda para mais com o calor que faz, que pena não caber no frigorífico, resolviam-se dois problemas de uma assentada, ao preço a que está a carne. Mas eram chatices para os outros – o morto é o único que ninguém importuna num funeral, e assim é que deve ser. Quem já está morto não devia ter de aturar chatices, mesmo que ainda cá ande.