Pasmado face a uma folha de papel branco, sem atinar com fábula ou conto com que a enchesse, decidi contar, para variar, a história da carochinha.
A boa da carochinha encontrou uma moedinha, e resolveu casar-se. Isto, pelo menos, é o que nos afiança o conto original, e cada qual se avenha agora para perceber onde raio pretende chegar uma barata na posse de uma quantia que não ultrapassa os dois euros. Disto fazendo tábua rasa, lá foi a carocha lançar o pregão em que oferecia o corpinho ao manifesto.
Segue-se neste ponto uma improvável corte de machos inadequados, e quer o autor convencer-nos de que o burro (o burro, santo Deus), não reúne as condições para casar com a barata porque a sua voz é muito feia. A sua voz? Não haverá aí outro problema? Quero dizer, vocês já viram um burro?
Vem em seguida a cabra, proposta de lesbianismo consentida para não terem de lhe chamar o aumentativo masculino do mesmo nome, e continua a ser o registo vocal o problema de maior monta. Começa então o leitor a questionar-se, será que o autor sabe de facto o que é uma carocha, e que tamanho tem?
Desfila depois um cortejo de semelhantes inanidades, que culmina quando o artrópode elege uma façanhuda ratazana como o amor da sua vida, lançando deste modo em espasmos de dolorosa hilaridade todos aqueles que contactaram já com um destes roedores. A barata sente-se contudo à altura do desafio, mas acaba por ver os seus planos transtornados quando o citado transmissor de doenças infecciosas, naturalmente interessado em comida mais sólida do que um mero insecto, se debruça e cai no caldeirão, onde é eventualmente cozinhado.
E o insecto fica a lamentar-se, em vez de se alegrar por ter escapado de boa ao triste destino de, além de barata, ficar conhecida de todos como “Dona Rata”. E parece que acabou a varrer melancolicamente a casa, triste caçada a um pó perfeitamente inocente de todos estes eventos.
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