Se eu morresse não escrevia mais, e era um descanso para todos. Se eu morresse era um descanso para todos, com a vantagem de não terem mais de me ouvir ou ler ou aturar. Haveria chatices, claro – participações de falecimento e telefonemas de condolências, e o sempre dispendioso aborrecimento de dispor de um corpo que já não sabe sair do caminho quando incomoda, e que nem se lembra mais de se lavar sozinho, e bem precisa, que já começa a cheirar mal, ainda para mais com o calor que faz, que pena não caber no frigorífico, resolviam-se dois problemas de uma assentada, ao preço a que está a carne. Mas eram chatices para os outros – o morto é o único que ninguém importuna num funeral, e assim é que deve ser. Quem já está morto não devia ter de aturar chatices, mesmo que ainda cá ande.
Há que enterrar os nossos palhaços, se queremos manter um ar sério... até os elefantes, antes de morrer, têm o cuidado de o fazer em sítio adequado...
segunda-feira, 2 de junho de 2014
Epitáfio
Se eu morresse não escrevia mais, e era um descanso para todos. Se eu morresse era um descanso para todos, com a vantagem de não terem mais de me ouvir ou ler ou aturar. Haveria chatices, claro – participações de falecimento e telefonemas de condolências, e o sempre dispendioso aborrecimento de dispor de um corpo que já não sabe sair do caminho quando incomoda, e que nem se lembra mais de se lavar sozinho, e bem precisa, que já começa a cheirar mal, ainda para mais com o calor que faz, que pena não caber no frigorífico, resolviam-se dois problemas de uma assentada, ao preço a que está a carne. Mas eram chatices para os outros – o morto é o único que ninguém importuna num funeral, e assim é que deve ser. Quem já está morto não devia ter de aturar chatices, mesmo que ainda cá ande.
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