Ontem, inesperadamente, fui sair à noite. Foi assim: estava sozinho em casa, tentando fingir que queria estar sozinho, que a solidão que inesperadamente ocorrera era bem-vinda, quando o telefone tocou sem que nada o fizesse esperar. Anuí ao convite inesperado, e estendi-o a outra amiga que o não esperava, mas que sem que eu esperasse aceitou. E inesperadamente se fez uma noite tal como as do passado, com copos de hoje e amigos de sempre. Não o esperava, confesso.
As horas passaram, os copos passaram, a lua quase cheia passou pelo céu todo, e pareceu em todo esse tempo que tempo nenhum tinha passado, que trinta anos das nossas vidas não haviam rolado, pesados e grossos, fazendo de nós outros do que o que fôramos. Por toda uma noite, vivemos o passado sem perder o presente; ou justamente o contrário, não sei bem.
Foi bom saber que ainda existíamos todos, que ainda existíamos uns para os outros, que muito do que jurámos décadas atrás manter vivo tinha de facto sobrevivido. Foi bom, bom e inesperado, descobrir que ainda éramos nós.
Votei para casa com a noite já velha, e deitei-me com o sol a brilhar-me pelo quarto todo, mas acordei novo, inesperadamente novo. É bom saber que ainda há coisas que não mudam, amizades com que podemos continuar a contar, laços com que contaremos sempre. Assim mesmo, quando menos esperarmos!
2 comentários:
Ainda bem. Eu, em contrapartida, tive uma saída na quinta-feira à noite que teve como condão fazer-me apreciar a noite solitária que devia ter tido. Mas para os meus lados ainda falta um santo popular!
As bênçãos inesperadas são as melhores. E a confirmação de que, com muitos mais anos, mais quilos, menos saúde e menos cabelo (escolha a sua opção), somos os mesmos e o mesmo uns para os outros.
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